Especial de aniversário da Três Pontos #1

Este é o primeiro de uma série de quatro textos sobre os dois anos da Três Pontos e o que esperamos do futuro.

Olá!

Meu nome é Taissa Reis (mas você também pode me chamar de Tassi) e eu sou a fundadora e agente sênior da Três Pontos, a agência que está te mandando essa newsletter e que completou dois anos de existência esse mês!

Se você tá lendo isso, é porque por algum motivo se interessa pelo trabalho dos autores que eu represento ou pelo mercado editorial em geral (ou, sei lá, é da minha família ou um dos três amigos que não trabalham no mercado editorial). De qualquer forma, já quero começar esse texto te agradecendo por estar aqui, não importa se você chegou agora ou está aqui desde o começo da agência, há dois anos (ou até antes!). Muito obrigada, de coração.

Além do aniversário de dois anos da agência, em 2023 também completo dez anos (uau) de trabalho como agente literária. É muita coisa.

Esse era para ser um texto simples, exaltando todas as conquistas dos autores da agência (e minhas também) que rolaram nesses últimos dois anos, mas a verdade é que eu tenho muita dificuldade de reconhecer meus méritos publicamente sem achar que vai parecer que estou tentando me vangloriar ou aparecer, então a gente vai demorar mais um pouquinho pra chegar nessa parte, ok? Mas continua aqui, por favor.

No mês passado, em reunião com uma autora que estava passando por uma crise de escrita por causa de freela, eu compartilhei algumas dificuldades que tive durante a minha carreira, pra mostrar pra ela que eu também tinha passado exatamente pela mesma situação. Ela então me disse uma coisa que ficou na minha cabeça até agora: a gente não fala sobre as coisas que não dão certo, então a gente acha que só nós erramos.

Eu falo muito que tô sempre fingindo que sei o que tô fazendo, mesmo dez anos depois de começar tudo isso. No mercado editorial é muito raro a gente receber qualquer tipo de feedback sobre nosso trabalho, a gente só sabe que fez algo bom porque os próximos trabalhos continuam chegando. E isso gera uma angústia enorme, principalmente quando você trabalha sozinho. Mas a gente não fala dessas inseguranças, a gente não fala dos momentos em que nada parece que vai dar certo e que a gente pensa em desistir. A gente não fala do medo de falhar conosco e com as outras pessoas. A gente não fala de como nosso mercado tá cheio de trabalhador precarizado acumulando freela em cima de freela pra conseguir fechar as contas, além de acumular mil funções no CLT (quando é CLT, porque muitas vezes é PJ). A gente não fala de autor que tem que escrever no ônibus porque é o único momento do dia em que dá pra parar, mesmo em movimento. Não se fala que a gente vai errar, que a gente vai desistir, que a gente vai se desesperar e não vai conseguir sentar na frente do computador sem chorar. Tudo isso já aconteceu comigo (inclusive muitos emails no ônibus, até hoje) e, honestamente, muito mais também.

Mas, ao longo do tempo, a gente aprende a se reerguer, a encontrar uma comunidade com quem podemos ser vulneráveis e falar dessas falhas, nossas e do mercado. E a gente vai tentar de novo. E de novo. Pra sempre, porque não existe um momento em que tudo o que a gente faz é perfeito.

Todas essas coisas fazem parte de uma carreira (e da vida) de uma pessoa, e como alguém que ainda estranha muito estar nessa posição de ser vista, eu me preocupo sempre em trazer a realidade do mercado editorial, com seus altos e baixos, para que a gente aprenda que vale muito, sim, comemorar as nossas vitórias. E que as minhas vitórias vão ser diferentes das suas porque o meu caminho é diferente do seu.

Eu já comemorei conseguir trabalhar por 1h no dia. Já comemorei me alimentar 3x no dia. Já comemorei conseguir mandar um email. Todo passo que conseguimos dar e que é um pouquinho maior que o anterior merece ser celebrado. E com isso a gente vai conseguindo comemorar marcos cada vez maiores.

Hoje eu comemoro que, nesses dois anos de existência, os autores da Três Pontos publicaram 31 obras, distribuídas entre onze editoras brasileiras de diferentes tamanhos (e três gringas, além do selo da agência). Que nossos autores foram indicados a dezoito prêmios e ganharam nove, e tiveram mais de cem participações em eventos pelas cinco regiões do país. Que a gente tem vários títulos sob opção para o audiovisual (e não posso falar mais que isso, mas vem aí!) e livros contratados em mais de dez países (vocês têm noção que de um livro nosso com personagens gays vai sair na RÚSSIA???). Que hoje eu consigo ter uma equipe pra atender aos autores e não faço mais tudo sozinha. Que mais de 70% dos nossos autores de carreira têm livros publicados ou contratados para publicação em grandes editoras, e trabalham com uma diversidade de formatos de publicação, mostrando que nenhuma carreira tem um caminho só. Que a gente tem capas lindas demais. Que eu consigo me comunicar muito melhor com todo mundo. Que consegui começar a trabalhar com quadrinhos e não ficção, áreas em que sempre tive vontade de botar meu pézinho. Que hoje eu posso formar novos profissionais para o mercado (spoiler das próximas newsletters). Que hoje consigo trabalhar só com a agência, sem ficar esgotada correndo atrás de freelas. Que eu sinto muito orgulho do que todos os autores, parceiros, editoras, equipe e, óbvio, leitores, construíram junto comigo nesses últimos dois anos, mas também nos últimos dez como um todo. Eu continuo falhando aqui junto com vocês, e espero continuar celebrando junto com vocês, também.

Então, mais uma vez, fica aqui o meu agradecimento ENORME a você, que faz parte dessa história.

E te convido a ficar por aqui que durante todo o mês eu vou compartilhar mais um pouquinho dos bastidores da agência e falar do que vem por aí ❤️