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Especial três anos de Três Pontos #2
Como tem sido a experiência dos nossos novos agentes?
Oi, pessoal! Tassi aqui.
No ano passado, escrevi aqui sobre a turma teste da mentoria para agentes literários na qual formei novos profissionais, e que parte deles acabou se juntando à equipe da Três Pontos.
A primeira edição oficial e aberta da mentoria infelizmente acabou não rolando porque ainda estou buscando um patrocínio para a bolsa-estudo dos futuros mentorados (você ou a sua empresa quer patrocinar a formação de novos agentes literários? Me responde aqui!), mas estou muito, muito feliz em poder trazer pra vocês as impressões dos outros agentes da casa sobre como foi esse primeiro ano de profissão deles.
Assim como nossos autores são múltiplos, acabou que cada agente teve uma visão diferente sobre o que os marcou mais durante esse tempo. Vamos acompanhar e conhecê-los melhor?
Dante Luiz:
Sou como um polvo criativo, exercitando carreiras diferentes em cada tentáculo, seguindo em uma linha contínua, com um puxando o outro.
O primeiro foi o da ilustração, o mais natural e endurecido de todos, que começou a se desenvolver na infância, como o aluno que passa mais tempo rabiscando no caderno do que estudando. Na mesma época, alguns tentáculos futuros já começavam a surgir, como pequenas ventosas de quadrinhos e contos. Mas era com o desenho que eu tinha mais afinidade, e foi em desenho que decidi focar quando fui pra faculdade, na decisão torta de fazer Moda, onde os tentáculos da costura e do empreendedorismo — bem anêmicos, fraquinhos — nunca se desenvolveram de fato.
O segundo a vingar foi o de quadrinhos, um tentáculo irmão da ilustração, primo carregando uma ventosa ou outra de escrita, com a produção de uma série de quadrinhos curtos em antologias gringas. O desenvolvimento desse tentáculo culminou não só numa graphic novel em 2022, mas também em me apresentar a um dos infinitos mares do mercado literário: o das editoras independentes, sustentado por campanhas de financiamento coletivo e camaradagem, área da qual nunca saí realmente (às vezes por escolha, às vezes não).
O terceiro e o quarto tentáculos se formaram juntos, os gêmeos univitelinos da escrita e da edição. Apesar de sempre ter escrito, conviver com escritores tanto no meio independente quanto dentro da minha própria casa acabou me estimulando a gostar de dar pitaco na escrita alheia, desenvolvendo minha criatividade não só ao escrever minhas próprias histórias, mas também ao desmontar e remontar contos, novelas e romances de amigos que fiz ao longo de todas as carreiras, com um foco sempre presente na ficção especulativa.
O tentáculo da edição acabou se tornando o maestro da orquestra de meu corpo cefalópode. Quando se tem muitos tentáculos, às vezes você, como polvo criativo, acaba sentindo que não sabe fazer nada. Que sabe muita coisa a nível intermediário, mas não tem aquele ultratentáculo megamalhado, com o qual você realmente sabe fazer a coisa e sabe que sabe fazer a coisa. Eu sei que sei desenhar, mas tenho dificuldade em me chamar de ilustrador profissional. Publiquei uma graphic novel, mas me chamar de quadrinista é estranho, quase uma mentira. Sei escrever, mas escrever-escrever mesmo? Sei lá. Mas descobri que editar oferece a oportunidade de usar a experiência de todos os meus tentáculos como apoio para outros escritores (que têm um tentáculo megamalhado) chegarem a outros níveis.
O agenciamento, então, veio como uma culminação de todas essas experiências. Vou largar a mão (o tentáculo?) da analogia do polvo por um segundo para dar um exemplo mais prático: em 2023, comecei a agenciar uma escritora-ilustradora (outro polvo como eu) com quem já tinha trabalhado em minhas infinitas andanças pelo meio independente de ficção especulativa, a Maria Carvalho.
Nosso primeiro projeto juntos como agente-e-autora na Três Pontos é um livro infantil recém-saído pelo Leiturinha: Medos Por Todo Lugar, que conta a história de Luíza, a criança mais neurótica do mundo, que acaba de se mudar para uma nova cidade. Além do imenso talento que Maria colocou nesse projeto, nele aparece indiretamente um pouco de cada experiência que acumulei nessa última década: a de editor (pra ajudar a elevar o texto), a de quadrinista (pra entender como o texto conversa com a ilustração), a de artista (pra saber como medir prazos de entrega) e até exercitei os músculos anêmicos do tentáculo perdido do empreendedorismo, lá da época da faculdade. E o resultado ficou lindo.
Voltando ao polvo, apesar de ser uma culminação, não vejo o agenciamento como um novo tentáculo, mas como todos meus tentáculos anteriores trabalhando ao mesmo tempo, conversando sem precisar de um maestro, um puxando o outro, um pedindo ajuda do outro. Uma parceria interna para executar o que é, no fim das contas, um trabalho de parcerias. Espero continuar crescendo tentáculos pra deixar o polvo-criativo (polvo-agente?) cada vez mais forte e musculoso. Por inteiro.
Dryele Brito:
Gostaria de contar pra vocês tudo o que admiro em relação ao trabalho de agente que fiz e vi durante esse um ano de profissão, entretanto, existe um motivo pelo qual eu sou agente e não autora, e esse relato certamente teria no mínimo o tamanho de um livro. Me apegando mais ao ambiente que essa empresa tem, é muito bacana parar e pensar que faço parte de um time de profissionais que sabem acolher, sempre da melhor maneira possível, as pessoas e projetos com os quais trabalham.
É muito comum vermos instituições que sugam seus colaboradores e que os veem quase que como máquinas de produção, então confesso que na primeira vez em que Tassi me mandou descansar em um dia de semana em que não estava me sentindo bem, eu estranhei. Foi então que virou a chavinha de que eu estava num ambiente em que eu não era “só mais uma funcionária”. Além disso, todas as vezes em que minha opinião é solicitada, sinto que sou uma peça muito importante num imenso jogo de quebra-cabeças (a literatura). São coisas que deveriam ser básicas em qualquer lugar, mas que hoje infelizmente são tão raras que se tornam marcantes.
Há um ano entrei para o time de agentes representando apenas uma autora. Bateu apreensão e receio, mas logo lembrei qual era o ambiente em que eu estava como profissional. Toda a angústia virou coragem, porque percebi que jamais estaria sozinha — muito pelo contrário, estaria cercada por uma rede de apoio fantástica que me auxiliaria em todos os passos do trajeto. E não deu outra.
Gosto de lembrar do peso que senti quando assinei o primeiro contrato de carreira da minha vida. Uma responsabilidade imensa!!!!! Por um bom tempo, jurei a mim mesma que teria somente essa autora na carteira de clientes, a insegurança sempre ali do meu ladinho, mas me orgulho em poder contar que, em menos de um ano, eu já represento duas autoras e que tenho a segurança e a confiança que jamais imaginei ter, e que certamente só tive porque essa agência me mostra, todos os dias, que posso ser quem eu quiser e que, se eu me dedicar, todo mundo aqui vai me apoiar.
A Três Pontos realmente leva a sério e cumpre sua missão de representar histórias que vão muito além das páginas, mas também carrega no seu dia a dia os valores de acolhimento, empatia e respeito — entre amigos, autores e colegas do mercado editorial. Posso honestamente dizer que admiro todos os meus colegas agentes associados da Três Pontos porque são pessoas que se comprometem fielmente aos objetivos dos seus autores e que sonham os sonhos deles ali juntinho, e algo que percebi nesse tempo é que o agenciamento precisa ter esse molhinho. Trabalhar com o trabalho de um artista não é a tarefa mais fácil do mundo, mas quando se é alguém que tem paciência, cuidado, empatia e, acima de tudo, respeito, o ofício se torna mais gostoso.
Emily de Moura:
Sempre que pode, minha mãe conta a história de quando eu, ainda criancinha, fiquei internada para tirar as amigdalas e passei todo o tempo no hospital lendo gibis da Turma da Mônica. Depois disso, quando eu já tinha pegado gosto, meus pais frequentemente levavam meu irmão e eu para comprar gibis na banca de livros usados do centro da cidade.
Mais tarde, já na faculdade, descobri o mundo do financiamento coletivo dos gibis e reencontrei a alegria de ler histórias em quadrinhos. Brinco que um dos meus hobbies favoritos hoje em dia é abrir o Catarse para ver a seção de quadrinhos. Gibis, assim como os livros, sempre estiveram presente em minha vida, de um jeito ou de outro, e de uns anos para cá tenho me divertido indo um pouquinho além, fazendo cursos de edição, assistindo a horas de vídeos de conversa com editoras, atazanando um amigo ou outro para saber como é o processo de criar um gibi, escrever um roteiro, desenhar página por página, inventar uma história do zero. É incrível descobrir como cada artista trabalha, encontrar padrões no meio do caos, me surpreender com tantas formas diferentes de contar uma história com imagens e palavras.
Quando comecei a estudar para ser agente literária, eu já sabia que queria focar principalmente nas histórias em quadrinhos. Juntar todas as pecinhas que fui acumulando ao longo dos anos e botar mais gibis no mundo, mas dum ângulo diferente — o de agente. A experiência tem sido incrível: trabalhar com o autor e discutir roteiros, cenas, enquadramento, ver uma página virar duas, três, quatro, acompanhar um rascunho se transformando numa página completa, decifrar a forma de fazer uma história funcionar, estudar e conversar com editoras para encontrar a melhor casa para as obras dos meus autores. Todo dia eu aprendo um pouco mais com cada um desses processos e com tantos outros mais.
Ainda temos muitas histórias para colocar no mundo e quero expandir meu escopo de trabalho para além dos gibis — esse é só o começo! —, então mal posso esperar pelo que vem aí.
Jackson Jacques:
Eu acho que a parte mais doida de ter começado a agenciar foi a sensação de que eu era um impostor, de parecer que eu não sei exatamente o que eu tô fazendo, mas que vou precisar me convencer de que sei, e convencer os outros também.
Acho que só senti o peso da responsabilidade, de verdade, assinando com o segundo e terceiro autores (que vieram praticamente juntos) e aí bateu aquela ficha de "uau, é real. eu tô realmente fazendo isso". Além disso, eram dois autores de prosa, que já chegaram me demandando uma atenção de leitura, edição e comentários que até então o Monge Han, meu primeiro agenciado, não tinha demandado por estar em uma outra etapa do trabalho.
Mesmo sabendo que as coisas tinham ficado sérias, a ficha só caiu quando fui na livraria procurar o Vozes Amarelas, primeira publicação tradicional do Monge como autor e minha como agente, e encontrei ali o livro em que a gente trabalhou por seis meses direto, em um ritmo de troca, aprovação, correção e contato intenso com a editora. Um livro mesmo, de verdade, à venda numa livraria. Foi um momento de realização profissional, de entender a importância do meu trabalho no produto final, de ver que é material o que eu tava fazendo do meu computador e do meu celular.
Agora sobre dificuldades: cheguei a comentar com a Tassi que eu fui o único dos novos agentes a assinar autores com quem não tinha uma relação prévia. Construir essa relação de trabalho, mas também pessoal, foi entender que cada autor tem seu ritmo, seu jeito de falar e absorver, seu tempo para responder no whatsapp (ou no telegram, que alguns preferem), entre outros pequenos detalhes que só essa troca nos faz atentar.
Fico muito feliz por ter me sentido bem o suficiente em deixar de lado o sentimento de impostor e passar a acreditar no meu trabalho a ponto de querer expandir, com cautela, minha carteira de agenciados, de fato pesquisando quem me interessava, tentando entender com quem eu sinto que posso contribuir e somar.
Em um balanço de um ano (uau) trabalhando como agente, a sensação é de ter conseguido fazer muitas coisas legais com os autores, sentir orgulho do que foi publicado por eles (também tive publicações com Renan Bittencourt e Mary Abade, meus outros dois agenciados até então) e ver que as relações que construímos são genuínas.
A gente volta nas próximas semanas, com mais textos especiais de aniversário!